o terremoto!

Primeiro obrigado a todos que nos enviaram mensagens, e-mails, scraps etc. para saber se estávamos bem. Acho que todo mundo agora sabe do que aconteceu aqui na NZ, precisamente em Christchurch, que fica a 300km daqui de onde moramos.
Sábado fomos acordados as 4 e tantas da manhã pela minha cunhada que mora em Christchurh. A primeira coisa que vem a mente nessa hora é morte na familia. Lembro-me de quando minha avó e avô morreram, meu tio veio nos avisar no meio da madrugada. Pois, o coração foi a mil quando ouvi o telefone, mas escutei o Chris a dizer "não estamos sentindo nada aqui". O terremoto "chegou" até aqui sim, mas eu não senti mesmo...muita gente aqui acordou com o terremoto.
Rebecca nos ligou porque achou que o terremoto vinha daqui e queria saber se estávamos bem. Ela não estava...percebi muito medo vindo de lá mas só depois, quando ligamos a TV que nos demos conta do estrago que foi.
Estivemos em Christchurch há duas semanas e foi muito estranho ver a cidade tão destruída. Um pouco chocante, devo dizer. No entando, a elegria veio em saber que não morreu ninguém, que milagre! Quando a gente olha as fotos, se dá conta do que poderia ter acontecido se o terremoto tivesse sido em horário comercial ou no começo da noite.
Bem, hoje é quinta-feira e a sensação por aqui não é boa. Desde sábado, os tremores são constantes, dia e noite. As pessoas, com medo, não conseguem dormir bem. Dizem que os tremores acabam por afetar o corpo e a pessoa fica extremamente cansada.
Ontem fui ao supermercado. Era visível a preoucupação das pessoas em comprar, comprar comida, ter bastante em estoque. Essa é uma coisa que só agora, com esse terremoto, eu "acordei".
A Nova Zelândia tem todo um esquema para situações de emergências. Todos os lugares, incluindo escolas, igrejas, local de trabalho, etc tem alguém responsável para responder se algo acontece. A população é ensinada como reagir o que ter num caso assim. Você precisa ter um kit de sobrevivência no jeito.
Bem, para nós brasileiros, isso é uma coisa que demora entrar na cabeça. No Brasil, a gente faz a compra do mês e quando vai acabando, corre lá e compra mais. Aqui, as pessoas tem um estoque grande de comida não perecível e ítens de primeiros socorros sempre no jeito, sem contar água, um fogão de acampamento, etc. A lista é complexa, mas lhe dá a change de sobreviver por alguns dias se algo aconteça e você fica sem água, luz, etc. Bem, amanhã eu vou começar a estocar comida e preparar o meu kit.
Como eu disse, a sensação de ver as pessoas sofrendo não é boa, ainda que os kiwis tem um jeito maravilhoso de "levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima". O Chris leu no jornal sobre um casal que tinha o casamento marcado para sábado, mas o restaurante onde seria a recepção estava todo destruído (como a maior parte dos restaurantes do centro da cidade). Então, fizeram o casamento no meio dos destroços mesmo e foram fazer a festa no McDonald, felizes da vida. Outro fato interessante foi que no sábado do terremoto, nasceram muitos bebês, um número muito maior do que o comum.
Mas não vai ser fácil para quem está na região, ainda com toda a boa vontade dos kiwis. Tanta gente não tem mais casa, nem trabalho. Hoje vi nas notícias sobre velhinhos que vivem em casa de repouso e que não tem para onde ir porque o local está condenado. As famílias aqui não são tão unidas como no Brasil, mas acho que muitos vão ter que ceder e receber os parentes em casa...fazer o que? Meu cunhado toca na orquestra da cidade e não sabe o que vai acontecer, porque se eles não tocam, não recebem. Vi um supermercado que foi destruído ter que dispensar todos os 67 funcionários. Muitas fazendas de gado de leite foram afetadas. O Governo esta disponibilizando uma grande soma de dólares para ajudar as vítimas, e o espírito de soliedariedade nesse país é imenso...alimentos já estão sendo arrecados em todos os supermercados para ajudar.
Vai demorar anos para tudo voltar ao normal, e que toda gente aqui lembra é que Londres foi reconstruída depois da II Guerra, então Christchurch vai se levantar.
O fato é eu me lembrei das minhas aulas de Geologia muito bem, mas nunca pensei que fosse experimentar os efeitos de um terremoto assim, tão perto de mim.
Mas estamos bem. Agora é ajudar, ainda que seja no telefone a confortar alguém que está lá no meio dos tremores e pedir a Deus que eles parem logo para as pessoas recomeçarem as suas vidas.